A Jesus pelas mãos de Maria, com o Papa e os Arautos do Evangelho!

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terça-feira, 12 de setembro de 2017

Homila de Mons. João na Missa de Ação de Graças do dia 15 de agosto de 2017

Homila de Mons. João proferida na
missa do dia 15 de agosto

Publicada na Revisto ARAUTOS DO EVANGELHO, edição de Setembro 2017

Meus filhos e minhas filhas, tratando-se de um dia como este em que vos congregais para celebrar meu septuagésimo oitavo aniversário, pus-me a refletir sobre como iniciar as palavras que deveriam alegrar-vos e consolar este coração de Pai, que palpita de amor por vós, meus "enjolras"![1]

        Foi então que me recordei de um fato da vida de um santo prelado. Encontrava-se Santo Afonso Maria de Ligório, com seus mais de noventa anos de idade, recolhido no convento dos Padres Redentoristas de Pagani, Itália, quando lhe comunicaram que naquele dia seriam ordenados dois novos sacerdotes filhos seus. Entre eles estava uma alma que seria sustentáculo de sua família religiosa: São Clemente
Maria Hofbauer. Uma moção da graça levou Santo Afonso a dirigir-se à capela, recitando a seguinte oração: "Jesus, aceitai a minha vida por eles, ou antes, deixai-me rezar e sofrer ainda alguns anos pelos dois padres que hoje devem ser ordenados".[2] O santo fundador percebera não ser a vontade de Deus sua morte, mas a aceitação em vida dos tormentos que os Céus lhe enviassem para fortalecer e guiar aquelas duas almas ao cumprimento de sua alta missão.

        Chegando à idade de setenta e oito anos, este vosso Pai, à maneira do grande Santo Afonso, não deseja morrer para que a Santa Igreja triunfe, mas sente o Espírito Santo soprar-lhe ao coração: "João, quero mais de ti!" Essa moção da graça leva-me não a oferecer minha vida, encerrando-a agora, mas a oferecer os sofrimentos que a Divina Providência ainda me concederá, para que a Santa Igreja seja glorificada e cumpra sua missão de instaurar na terra o que a oração do Senhor repete dia a dia em nossos lábios: "Venha a nós o vosso Reino".

        Este Reino virá, o Senhor o prometeu e Nossa Senhora em Fátima bradou ao mundo inteiro: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!"

        Como será? Quando se dará? Deus o sabe e tem preparado a cada um de vós para seu triunfo, pois as trevas "não prevalecerão contra ela" (Mt 16, 18).

Quem ama a dor por amor ao Reino dos Céus tudo suportará

        Meus filhos e minhas filhas, após setenta e oito anos de uma vida dedicada em prol da Santa Igreja, posso dizer-vos, unindo minha voz à do Eclesiástico: Meu filho, se entraste para o serviço de Deus, atenção, prepara a tua alma para a provação (cf. Eclo 2, 1).

        A vida humana é uma luta. Somente aqueles que abraçarem as veredas da sabedoria serão capazes de suportar os sofrimentos que Deus nos envia para purificar nossa alma no cadinho da provação. Por isso, meus filhos e minhas filhas, o Divino Mestre nos ensina: "Quem não toma a sua cruz e não Me segue, não é digno de Mim" (Mt 10, 38).

        Este Pai, que outra coisa não faz senão amar-vos, deseja formar-vos e preparar-vos para o Reino dos Céus, pois somente quem estiver disposto a sofrer comigo, Pai e fundador desta família espiritual, estará disposto a suportar as provas e as dores por amor ao Paraíso.

        Vejo muitos que se perguntam como perseverar. É simples, meus filhos: quem ama a vida eterna é como o comprador que encontrou um tesouro escondido num campo. Ele vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo para alcançar um tesouro eterno. Quem assim agir, a vida eterna encontrou (cf. Mt 13, 44). Por essa razão vos alerto: quem comigo não ajunta, espalha (cf. Mt 12, 30), pois "quem ama o perigo nele perecerá" (Eclo 3, 27).

        Aquele que nos congregou e nos formou sempre nos ensinou que o homem que ama a dor e o sofrimento está disposto a tudo para a maior glória de Deus. É o que vos digo, meus filhos: quem ama a dor por amor aoReino dos Céus, tudo suportará.

Impossível é desertar de uma vocação tão elevada

        Quem quiser seguir-me, repito com o Divino Redentor, tome sua cruz e siga-me! Apenas assim poderemos fazer jus ao nosso nome glorioso de cristãos, como tão bem nos recorda a Carta a Diogneto, que descreve o caminho dos eleitos nesta terra:

        "São de carne, porém, não vivem segundo a carne. Moram na terra, mas sua cidade é no Céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas com seu gênero de vida superam as leis. Amam a todos e por todos são perseguidos. Condenam-nos sem os conhecerem; entregues à morte, dão a vida. São pobres, mas enriquecem a muitos; tudo lhes falta e vivem na abundância. São desprezados, mas no meio dos opróbrios enchem-se de glória. São caluniados, mas transparece o testemunho de sua justiça. Amaldiçoam-nos e eles abençoam. Sofrem afrontas e pagam com honras. Praticam o bem e são castigados como malfeitores. Ao serem punidos, alegram-se como se lhes dessem a vida. Os judeus fazem-lhes guerra como a estrangeiros e os pagãos os perseguem, mas nenhum daqueles que os odeiam sabe dizer a causa do seu ódio. […] Os cristãos, constantemente mortificados, veem seu número crescer dia a dia. Deus os colocou em posição tão elevada que lhes é impossível desertar".[3]

        Meus filhos, Nossa Senhora chamou-nos a vocação tão alta que nos é impossível desertar. Se A víssemos, o que nos diria Ela? "Meus filhos, vos escolhi do mundo para serdes meus, para servirdes o meu Reino nesta terra e glorificar-Me nos Céus. Se vós soubésseis o que vos aguarda por servir-Me, ser-vos-ia impossível viver mais nesta terra, desejaríeis voar ao meu Reino eterno".

"O justo viverá pela fé"

        Como não nos comover se a Santíssima Virgem Maria nos dirigisse tais palavras de afeto e de amor? E isso, meus filhos, Ela nos diz no mais profundo de nossos corações: "Meu filho, persevera, o meu Reino é vosso para sempre!"

        Meus filhos, neste dia em que a Santa Igreja universal comemora a Assunção de Maria Santíssima aos Céus e que vós vos reunis aqui para prestar vossas homenagens a este Pai que vos ama e vive para vos servir, gostaria de dizer-vos com o Apóstolo São Paulo: "O justo viverá pela fé!" (Gal 3, 11).

        As batalhas que nos aguardam são grandiosas, delas dependerá nossa entrada no Céu, por isso perseverai, meus filhos, perseverai em vossa luta, perseverai em vossa virtude, perseverai em vossa santidade. Pois Nosso Senhor nos chama às provas que nos conduzirão ao Paraíso: "No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo" (Jo 16, 33).

Vosso Pai se consome de zelo pelo Reino de Maria

        Como se dará e quando virá? Não sei! Este vosso Pai sente-se como Elias no alto da montanha esperando o Senhor passar (cf. I Rs 19, 8-14): virá um vento impetuoso e violento que fenderá as montanhas e quebrará os rochedos, mas o Senhor não estará nesse vento. Depois do vento a terra tremerá, mas o Senhor não Se encontrará no tremor de terra. Passado o tremor de terra, se acenderá um fogo, mas o Senhor não estará no fogo. Por fim, depois do fogo se ouvirá o murmúrio de uma brisa ligeira que me inspirará: "João, cubra o rosto com teu manto, pois chegaste diante de Deus". Nesse momento, o Senhor me dirá:

        "Que fazes aqui, João?"

        Com a alma cumulada por suas graças, vosso Pai responderá: "Eu me consumo de zelo pelo Senhor, Deus dos exércitos. Porque abandonaram a vossa aliança, derrubaram os vossos altares e passaram os vossos profetas ao fio da espada. Só eu fiquei, e agora querem tirar-me a vida" (I Rs 19, 14).

        Meus filhos, as provas virão, será dura nossa luta, mas o murmúrio suave de uma brisa celeste trará à humanidade os frutos do Sangue preciosíssimo do Redentor, que renovará o universo, fazendo baixar à terra o Reino de Maria.

        Foram essas as palavras saídas do coração do vosso Pai, que hoje se regozija convosco por mais um ano de vida, um ano de luta, um ano de vitória! ²


Homilia pronunciada no dia 15/8/2017
na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, Caieiras (SP)

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[1] No convívio entre os membros dos Arautos do Evangelho, os mais novos são chamados de "enjolras", termo cunhado afetuosamente por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira.

[2] HÜNERMANN, Janssen. São Clemente Maria: Vanguardeiro da Congregação Redentorista. Petrópolis: Vozes, 1953, p.71.

[3] CARTA A DIOGNETO. In: COMISSÃO EPISCOPAL DE TEXTOS LITÚRGICOS. Liturgia das Horas. Petrópolis: Vozes; Paulinas; Paulus; Ave-Maria, 2000, v.II, p.757-758.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Jesus, Verdade e divisão

Editorial Revista Arautos do Evangelho, Julho 2017
"Saiu o semeador a semear a sua semente" (Lc 8, 5). O campo somos nós, estes corações onde a mão de Deus deita amorosamente a semente da graça, na esperança de ver neles frutificar a virtude em abundância de boas obras. Contudo, estes corações recebem de formas muito diversas estas sementes: alguns como terra pisada, outros como espinhos, outros ainda como pedras, e só uma parte como terra boa (cf. Lc 8, 5-8).
Ademais, explica-nos Jesus que o Divino Agricultor não Se encontra sozinho agindo no campo. Muitos outros, junto com Ele, também estão semeando: uns, o trigo verdadeiro, e outros, o joio. Assim, num mesmo pedaço de terra, ambos são semeados juntos, crescem juntos e são até ceifados juntos… mas, numa fração de instante, são bruscamente separados: o joio é queimado, e o trigo recolhido (cf. Mt 13, 24-30).
Por quê? Porque Deus ama a virtude e odeia a iniquidade (cf. Hb 1, 9), e "não deixará prevalecer por muito tempo o domínio dos malvados sobre a sorte dos seus justos" (Sl 124, 3).
Quando será a colheita? No momento em que a humanidade menos o esperar, pois "o dia do Senhor virá como um ladrão" (I Tes 5, 2); quando ela, na sua prepotência, julgar poder impunemente levantar seu braço contra Deus, "então repentinamente lhes sobrevirá a destruição" (I Tes 5, 3). Para isto bastará um instante, pois satanás caiu do Céu "como um relâmpago" (Lc 10, 18); assim também "quem estiver no terraço e tiver os seus bens em casa não desça para os tirar" (Lc 17, 31).
Quem operará a ceifa e a posterior separação? O próprio Deus, todo-poderoso, que, embora faça "chover sobre os justos e sobre os injustos" (Mt 5, 45), premeia os bons e castiga os maus (cf. Mt 25, 46), e separará uns dos outros pelo ministério de seus Santos Anjos (cf. Mt 13, 49). Por isso o Divino Mestre, que é "o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14, 6), afirma não ter vindo trazer a paz, mas a divisão (cf. Lc 12, 51), de modo que "haverá numa mesma casa cinco pessoas divididas, três contra duas, e duas contra três" (Lc 12, 52).
Finalmente, como será separado o joio do trigo? Apresentando-se a Verdade. Com efeito, ela esclarece, revela e divide; ela une, fortalece e salva os bons, mas desmascara, confunde e dissipa os maus. A Verdade é como a luz: diante daquela não resiste a maldade, como tampouco as trevas logram vencer a claridade. O Absoluto define, e Deus julga. O destino eterno se decide em função da opção que cada um faz perante a Verdade.
Isto explica as perseguições, os martírios e as bem-aventuranças, pois "assim perseguiram os profetas" (Mt 5, 12), e "se Me perseguiram a Mim, também vos hão de perseguir" (Jo 15, 20). Deste modo, perseguindo a Deus em seus filhos, cumprem "as profecias que se leem todos os sábados" (At 13, 27), muitas vezes sem disto sequer dar-se conta.
Portanto, a vitória de Deus é questão de tempo, e pouco! Importa permanecer n'Ele, para que "tenhamos confiança e não sejamos confundidos" (I Jo 2, 28) quando vier.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Na Fronteira da Historia



No dia 13 deste mês de maio, teremos finalmente chegado ao centésimo aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima, data tão esperada por nós, tendo em vista que a mensagem ali revelada fundamenta uma especial esperança para a humanidade, frente ao processo histórico de que foi objeto ao longo de sete mil anos.
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Com efeito, as palavras da Senhora aos três pastorinhos convidam a elevar nossas vistas – viciadas por um mundo materialista, mecanizado e despojado de religiosidade – para considerarmos novos horizontes: os do Reino de Maria que nasce, cuja aurora começa a tingir de dourado alguns cumes de montanha, prenunciando o meio-dia prometido.
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Sob o soberano e grandioso olhar de Deus, a História da humanidade forma um só grande conjunto que abarca o passado mais remoto, um presente assaz conturbado, e o futuro mais distante. Assim sendo, a mensagem de Fátima, ditada por ocasião das várias aparições de Nossa Senhora, deve ser avaliada por nós em função da visão global de todos os séculos, que se desenrola aos pés de Jesus e cuja maravilhosa trama coloca em irreconciliável oposição os Anjos e os demônios, os Santos e os precitos, os profetas de Deus e os de satanás.
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Embora prometida no Protoevangelho (cf. Gn 3, 15), e apesar de terem acontecido muitos episódios prefigurativos ao longo dos tempos, ainda não se deu a plenitude do embate entre a cabeça da Serpente e o calcanhar da Virgem. Contudo, vemos hoje as potencialidades, ou capacidades de ação, se multiplicarem e se acumularem em ambos os lados de tal forma que podemos com toda propriedade afirmar que nossa época traz perspectivas verdadeiramente apocalípticas.
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Ora, o Apocalipse muitas vezes é apresentado exclusiva e unilateralmente como sendo um elenco de dramas sucessivos, desastrosos para tudo e para todos... e isto lhe tolhe seu principal significado: uma bela liturgia – realizada de comum acordo entre os Anjos e os justos, sob o comando do próprio Cordeiro Imolado – mediante a qual Deus vinga sua honra, restabelece a justiça e instaura seu reino de paz; a paz de Jesus Cristo e de Maria, a única verdadeira e realmente estável.
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Com efeito, se considerarmos os sete mil anos de acontecimentos dos homens na terra, veremos que, infelizmente, ao lado de fatos sem dúvida muito belos, a Santíssima Trindade deixou muitíssimas vezes o demônio interferir nos planos divinos, interrompe-los e deturpá-los conforme melhor lhe aprouvesse. Isto mudará em breve, assumindo Deus o comando da História, assim como o anunciaram todos os profetas, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.
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Neste sentido, as profecias do segredo de Fátima possuem um profundo significado, pois constituem o último elo de uma corrente que liga o Céu à terra, e cuja realização marcará um antes e um depois nas relações entre Deus e os homens, por meio de graças imprevisíveis e até mesmo inimagináveis. Estamos agora, portanto, à beira de uma nova fronteira da História.
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(Editorial da Revista Arautos do Evangelho, Número 185, Maio 2017.)