Dom Airton é nomeado Arcebispo
por MARA FLÔRES
Depois de sete anos à frente da Igreja Católica do Alto Tietê, dom Airton José dos Santos deixará a Diocese de Mogi das Cruzes. Ontem, numa publicação oficial do Vaticano, o religioso mineiro deixou de ser bispo para ser nomeado, pelo Papa Bento XVI, arcebispo metropolitano de Campinas, uma das principais regiões do Estado de São Paulo. É a primeira vez que um bispo local é ordenado arcebispo, um dos postos principais dentro da hierarquia da Igreja, atrás apenas de cardeais e do próprio papa.
Dom Airton será transferido do Alto Tietê, uma região formada por 10 municípios, cerca de 1,4 milhão de habitantes, 49 paróquias e maioria católica, para comandar a Região Metropolitana de Campinas, formada por mais cinco dioceses – Amparo, Bragança Paulista, Limeira, Piracicaba e São Carlos – além da própria Arquidiocese, que é composta de 88 paróquias distribuídas por nove cidades (Campinas, Elias Fausto, Hortolândia, Indaiatuba, Monte Mor, Paulínia, Sumaré, Valinhos e Vinhedo), mais de dois milhões de habitantes e também maioria católica.
"Pelo que obtive de informação, é uma região onde o catolicismo é forte. Uma região com sentimento religioso muito à flor da pele e, nesse sentido, positiva porque se encontra um ambiente acolhedor", ressaltou dom Airton ao apontar uma semelhança de Campinas com o Alto Tietê. "Do ponto de vista religioso, o Alto Tietê é de uma religiosidade popular muito forte, existe aqui uma busca do aspecto religioso que não é qualquer coisa", acrescentou ao fazer referência inclusive aos traços do período colonial herdado por Mogi. "A Cidade é colonial, contemporânea ao Pátio do Colégio, que traz e respira a religiosidade que vem deste período".
Dom Airton, que foi elevado a bispo há 10 anos, classificou a sua transferência para Campinas como uma ação que ocorre dentro dos ritos normais da Igreja Católica, mas se mostrou surpreso com a nomeação a arcebispo, da qual tomou conhecimento no último dia 24, através do então núncio apostólico Lorenzo Baldisseri. A escolha do seu nome foi feita pelo Papa Bento XVI a partir de uma lista tríplice de bispos indicada pelo núncio.
Interpelado sobre os fatores que teriam favorecido a sua escolha entre os três bispos indicados – os outros nomes foram mantidos em sigilo pelo Vaticano – dom Airton descartou que a sua nomeação tenha sido por mérito e capacidade própria. Ainda que isso tenha sido levado em conta, ele aposta que foi o reconhecimento do trabalho realizado pela Diocese de Mogi das Cruzes, quem completará 50 anos em junho, que o levaram ao posto de arcebispo metropolitano de Campinas.
"A Diocese de Mogi é uma árvore que começou a produzir os primeiros frutos de padres, de organização pastoral, de infraestrutura", apontou ele, ao citar a sua nomeação como um processo de dinamismo iniciado pela Igreja e uma mudança na história episcopal da Região, onde os três bispos que o antecederam saíram por motivos diferentes do que o está levando para Campinas. Dom Paulo Rolim Loureiro, o primeiro bispo de Mogi, deixou o posto ao morrer num acidente de trânsito; dom Emílio Pignoli foi transferido para comandar uma Diocese nova; enquanto dom Paulo Mascarenhas Roxo se tornou emérito. "Estou sendo transferido mas não para começar um trabalho novo e sim para ir para uma igreja que tem história, é mãe de outras dioceses. Isso é sinal de que a Diocese de Mogi das Cruzes está no ponto de amadurecimento e, daqui para frente, é crescimento", avaliou.
No balanço dos sete anos que ficou no Alto Tietê e que, como ele mesmo classificou como escola já que, antes daqui, só tinha atuado como bispo auxiliar, dom Airton destacou a reestruturação da infraestrutura da Diocese – desde a recuperação do prédio ocupado pelo Colégio Tomás de Aquino, no Mogilar, nova sede da Cúria Diocesana o que permitiu, consequentemente, que a Residência Episcopal, na Rua Ipiranga, fosse usada para a sua finalidade original (dom Airton já está morando ali), até a construção do novo seminário no Tabor, prevista para começar em breve - até o avanço na evangelização, que pode ser medido pela ordenação de novos padres (até o final deste ano serão 21 num intervalo de oito anos) e a expansão das paróquias. Hoje são 49 e mais duas em Itaquaquecetuba em processo de elevação à paróquia.
"Hoje temos quase um padre por paróquia. Existe, então, uma melhora de presença e de atendimento nas paróquias. Temos conseguido recuperar a defasagem e ampliar", frisou dom Airton.
Esse mesmo crescimento da Igreja Católica, segundo o religioso, pode ser medido também na participação dos fieis. "As paróquias estão repletas, as pastorais, catequeses, o acompanhamento dos jovens, de casais...Têm mais atrativos na Igreja", afirmou.
Ao traçar um perfil do Alto Tietê, onde diz que a característica acolhedora da população é a impressão mais marcante que carregará consigo, dom Airton disse que a constituição geográfica da Região faz a sua população ser mais assentada, com cidades que não servem simplesmente para a passagem de pessoas.
"Outra coisa que ainda é, mas que não sei se vai continuar porque está crescendo muito, é que se trata de uma Região justa. Não temos muitos problemas com corrupção, grandes problemas sociais, políticos...Temos os comuns o que faz daqui uma região com característica diferenciada em relação ao ABC e a São Paulo", avaliou.
Dom Airton não sabe se encontrará o mesmo cenário em Campinas, onde admite que será um desafio comandar a Arquidiocese de uma região que conhece de passagem e de notícias. "Mas chego em Campinas com a vontade de conhecer a realidade, de assimilar o que é a situação daquela região e contribuir de forma positiva. Vou citar o exemplo de um velho diretor espiritual no seminário: Um bom boxeador não é aquele que sabe todas as regras, mas aquele que assimila bem os golpes. Se aquele que sabe todas as regras tombar no primeiro golpe e não levantar mais, não adiantou nada saber as regras. Portanto, assimilar bem as coisas da realidade é uma busca que temos de fazer sempre e não ser refratário", resumiu.
Trabalho na cidade é elogiado por autoridades
por Noemia Alves
Da reportagem local
A nomeação do bispo diocesano de Mogi das Cruzes, dom Airton José dos Santos, à condição de arcebispo da Diocese de Campinas, por determinação do papa Bento XVI, tornou-se pública nas primeiras horas da manhã de ontem nos principais sites das instituições de comunicação e organizações católicas. A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a rede Canção Nova e a Arquidiocese de Campinas reproduziram a determinação do papa por volta das 9 horas e apresentaram breve perfil e trajetória do bispo. Por conta disso, nas rodas de conversa da cidade e até nas redes sociais da Internet, o assunto comum era a saída de dom Airton e o trabalho que realizou ao longo dos últimos sete anos.
O prefeito Marco Bertaiolli (PSD) classifica dom Airton como um "grande parceiro da administração municipal". "Sua passagem por Mogi foi marcada pelo fortalecimento da religião católica e pela valorização e pelo crescimento da Festa do Divino Espírito Santo, maior manifestação religiosa e cultural de nossa cidade. Dom Airton também se mostrou uma liderança engajada na defesa dos interesses de Mogi das Cruzes e de seu povo", disse, em nota encaminhada por sua Assessoria de Imprensa.
O deputado federal Junji Abe (PSD), que era prefeito da cidade quando José dos Santos chegou à Diocese, disse ter sentido um misto de alegria e tristeza com a notícia. "Por um lado, fico muito feliz e orgulhoso pelo reconhecimento do papa à atuação exemplar do nosso bispo diocesano, que, sem sombra de dúvida, coleciona méritos para cumprir mais essa importante missão em sua admirável jornada eclesiástica. Por outro lado, como cidadão mogiano, católico e admirador de dom Airton, sinto que a comunidade católica do Alto Tietê perde um legítimo líder religioso. Ele deixará uma enorme lacuna, como resultado de seu devotado trabalho à frente da Diocese de Mogi". Para Junji Abe, dom Airton, tido como por alguns como um bispo conservador, teve demonstração de cidadania, "quando rejeitou, com todas as letras, o patrocínio, para a Festa do Divino, da empresa que insiste em instalar um aterro sanitário no distrito do Taboão, à revelia do veemente repúdio popular".
"Mogi perde um grande líder religioso, mas mantém o cidadão. Porque o que dom Airton fez em defesa de Mogi e de seus moradores demonstra muito amor pela cidade".
O festeiro do Divino Espírito Santo, Josmar Cassola Silva, também disse ter ficado surpreso e "entristecido" com a notícia e garantiu que não haverá mudanças na edição da festa deste ano.
Outros jornais da Região do Alto Tietê tem dado noticias a respeito da nomeação de Dom Airton.
Também em Campinas os jornais tem destacado a
cargo de Arcebispo Metropolitano de Campinas.
A data da pose de Dom Airton José dos Santos
será no domingo segundo de Pascoa, 15 de abril,
às 10:00 horas da manhã.
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